Hemodiálise o Presente e o Futuro

A hemodiálise é um filme de terror. Não quero assustar ou desanimar quem vai iniciar a diálise, porque há todo um acompanhamento médico, de esclarecimento prévio e durante o tratamento, e claro, cada pessoa reage de modo diferente. Eu como sou hiperativa, é-me impossível estar imóvel e presa durante 4 a 5 horas, de cabeça para baixo a olhar para uma televisão sem som e sem legendas. É certo que houve avanços tecnológicos para aligeirar o serviço do enfermeiro e também muito importante, a não reutilização dos filtros para uma diálise mais eficaz. Clicar nas imagens para aumentar.

Vou contar-vos um episódio que se passou comigo há cerca de 27 anos, quando fiz diálise durante 4 anos, foi num domingo, acordei sem forças e completamente intoxicada, liguei para a clínica e foram obrigados a fazerem-me um tratamento extra, o médico pergunta-me, visivelmente zangado, o que tinha acontecido, e eu sem saber as causas, ocorreu-me dizer-lhe que comi uma laranja e ele furioso (estava em casa a ver um jogo de futebol) : então você, com a formação que tem, não sabe que não pode comer laranjas, continuando a bater no ceguinho; entretanto caí desamparada no chão e sua excelência não me ajudou. Vim a saber mais tarde que tinha sido mal dialisada na sessão anterior por deficiente lavagem do filtro.

A maior tortura da diálise, entre outros fatores, são as 2 picadas com agulhas do tamanho de agulha de croché que entram cerca de 2,5 cm pelas nossas veias já dilaceradas, frequentemente provocando hematomas ou tocando num nervo, o incómodo por quase não nos podermos mexer durante mais de 4 horas, a impossibilidade de nos entretermos devido à queda abrupta da tensão que nos obriga a estarmos na horizontal e que por vezes provocam desmaios e vómitos, as cãibras recorrentes e muito dolorosas, o ambiente um pouco deprimente de assistir ao sofrimento dos outros e quantas vezes à sua morte. A referir ainda a temperatura gélida que suportamos durante quase toda a sessão, e também a fome terrível, que provoca dores no estomago, pois mesmo tendo almoçado antes, sai tudo pelo cano.

Desde a pandemia, que as coisas pioraram, em relação à comodidade do doente. O uso da máscara permanentemente durante umas 5 h ou mais, a proibição de levar objetos, como um jornal, que me entretinha, a almofada para as dores no pescoço e costas, devido às artroses, uma manta extra, trazida de casa, por causa do frio ( temperatura mais baixa na maquina) e do ar condicionado, do direito ao lanche durante o tratamento, do convívio antes e depois dos turnos, pois que os turnos já não se cruzam, e mesmo entre nós, do mesmo turno, o afastamento exigido, isola-nos mais uns dos outros, a redução de pessoal, devido a baixas consecutivas, um certo ambiente hostil e impaciente, e um maior aumento de mortes, principalmente dos doentes em lares, que representam a maioria do turno da tarde, que é o meu.

Tenho lido em vários artigos sobre a hemodiálise, considerações sobre a necessidade de um apoio psicológico efetivo aos doentes e numa melhor preparação humanista dos enfermeiros, médicos e auxiliares de saúde no sentido de saberem lidar com o doente, que se encontra debilitado física e psicologicamente, em depressão, revoltado e em estado de choque, e ainda uma preparação para os casos específicos dos doentes com demência e com deficiências várias devido à diabetes.

A Hemodiálise é um tratamento doloroso, incomodo, gélido e deprimente. Para quando a melhoria efetiva deste tratamento para o doente ou o investimento do Estado ou Estados deste planeta na aposta de outras vias, como o rim biónico, células estaminais, ou outras, as quais dispensariam o doente de tomar imunossupressores, e toda uma panóplia de medicamentos para os efeitos secundários da medicação de um transplantado. Para os Estados com serviço nacional de saúde será sobretudo uma questão económica, pois se traduziria por uma considerável poupança dado os grandes gastos com a hemodiálise, que inclui o tratamento, medicação, realização de fistulas, transportes etc.

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