O poeta João Luís Barreto Guimarães venceu o Willow Run Poetry Book Award de 2020, com o seu livro Mediterrâneo, de 2016, uma compilação de poemas escritos entre 2012 e 2015, tendo ganho, também com este livro, em 2017, o Prémio Nacional de Poesia António Ramos Rosa, caracterizado pelo júri como “uma deambulação pela história e pela cultura europeia e mediterrânica, atravessando a paisagem física e espiritual, bem como o tempo entre a Antiguidade clássica e a nossa contemporaneidade (…), um livro que nos apresenta uma poesia que reflete as nossas raízes culturais como elementos vivos do nosso quotidiano”.
Luís Barreto Guimarães, nasceu no Porto, e alem de poeta, é tradutor e cirurgião plástico.

A possibilidade de amor
A
manhã fria aproxima os amantes
junto ao mar no extremo norte da ilha onde
sopra um vento frio e uma fria queda de água sai
em arco da
falésia à qual na ilha se deu o nome de
véu da noiva. Para cá de Porto Moniz (em
longas folhas de agave) cada língua deixou viva
a possibilidade de amor:
Hubert aime Christine
a Olga le gusta Mauri
só o solitário Simon e Susan a sonhadora
inscritos em folhas diversas (ainda que
do mesmo cacto) por má sorte
ou bom azar
não coincidiram no dia.
Todos estiveram aqui. Todos aqui assentiram
a possibilidade de amor –
mesmo se
a água que cai hoje não é a água de amanhã
(sequer do próximo ano) quando
estes nomes caírem e outros
em seu lugar surgirem ainda
sem mágoa. Que a paixão que aqui se escreveu
se torne amor até lá.