Não vou escrever sobre as crianças neste tempo de confinamento forçado que agora vivemos. Vou escrever sobre as crianças do confinamento desejado, por elas, que começou paulatinamente no fim do sec. passado até aos dias de hoje.
É domingo, no inicio deste século, vou à varanda, à minha frente tenho um grande descampado com arvores e vários carreiros desenhados na terra, vejo pessoas com cães, só… e as crianças, onde estão? Deveriam estar crianças a andar de bicicleta, é seguro, a jogar futebol, a correr e a saltar, a jogar à corda, a brincar com a terra, a sujarem as mãos, a rir, a chorar, a gritar, a cantar e a dançar, a serem crianças na rua. Nem uma. Só os latidos dos cães e o esvoaçar das aves.
Onde estão? Estão a jogar na consola, no telemóvel, na tablet, etc. Provavelmente a comer batata frita ou outra coisa salgada, doce, gordurosa.
O imaginário dos livros Obesidade na adolescência
Sabemos que as crianças precisam conviver e brincar com os outros, ter amigos reais, mas agora fazem-no virtualmente, até com desconhecidos, amigos virtuais.
Sabemos que a maioria das crianças são muito enérgicas, cheias de vida, e que precisam descarregar tudo isso nas brincadeiras e no desporto, ao ar livre ou em pavilhões, na praia, no jardim, no mato, etc. Descarregar essa energia nos jogos eletrónicos e nas transmissões de futebol, por exemplo, parece ser uma solução de conforto para os pais, sem prever as suas consequências.
Na minha infância, eu era como uma cabrinha à solta, hiperativa, subindo às arvores e pulando telhados, caindo, machucando-me, mas nem dava por isso, jogando à malha, fazendo piruetas de bicicleta, saltando à corda com perícia, badmínton e tantos outros; comia gemadas batidas, frutos secos à fartazana, chocolate e mais chocolate, fruta até acabar. Em casa lia, jogava legos e jogos de tabuleiro. Não foi por isso que fiquei doente, mas sei que possuo um sistema imunitário fortíssimo, e nunca fui gorda, apesar dos chocolates. Sei que o fator hereditário também tem influencia, então, neste caso, os efeitos ainda serão mais graves.
Falta de sociabilização, falta de exercício, excesso de fast food, excesso de sedentarismo, é o modus vivendi desta nova infância digital.
Vamos ter crianças obesas, logo adultos obesos, doentes, excluídos, infelizes. É isto que queremos para a nova geração?