Aos 15 anos ofereceram-me uma viagem ao Brasil e à Argentina. Tinha familiares na Argentina e um amigo do meu pai no Brasil. A minha mãe e os pais (antes da minha existência), haviam emigrado para a Argentina, onde já se encontrava o seu avô, com uma vida confortável, mas foram obrigados a regressar anos depois, por doença de seu pai. O irmão de minha mãe nasceu na Argentina e lá ficou, emigrando depois para os Estados Unidos.
No Brasil, em São Paulo, morava um grande amigo de meu pai, natural de Olhão, o engenheiro civil João dos Santos Baleizão, cúmplice, companheiro de estudos e de ativismos antifascistas contra o ditador Salazar. Esteve preso no forte de Caxias, exilando-se depois para o Brasil. Foi colaborador e um dos lideres dos Jornais Portugal Democrático e Portugal Livre no Brasil, proibidos em Portugal, e consta que recebeu em sua casa, o Dr. Mario Soares no tempo da ditadura, pois eram muito amigos. Meu pai, formado em engenharia Civil, ficou com ficha na Pide (policia do Estado Novo) e impedido de concorrer à função publica, o que dificultou bastante o seu início de carreira.
Nessa época , eu já sabia de cor muitas canções da MPB Brasileira, e adorava o Vinícius de Morais, naqueles shows com Toquinho e Maria Creusa. Estive uns dias em Copacabana e não podia perder um espetáculo deles os três, que aí estava a decorrer. Foi inesquecível.
Saravá Vinicius! Saravá povo brasileiro!
Vinícius de Morais
Soneto de Fidelidade, 1939
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E se em louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.