Nuclear ? Não Obrigado

Há personagens que encontramos na nossa vida, e são como um raio de luz, de saber, de clarividência, mestres e mentores, que nos desassossegam e nos alertam, que nos fazem agir.
O Professor Catedrático Delgado Domingos, foi um furacão ativista pelas causas ambientais, cientista, investigador, conferencista, membro de variados organismos nacionais e internacionais, ligados à Energia, ao Clima, ao Ambiente, à Termodinâmica, na Previsão Meteorológica, no Desenvolvimento Sustentável, com inúmeras publicações. A sua posição em relação às Alterações Climáticas levantou muitas polémicas.
A sua Página e o seu Curriculum.
Em 1976, foi um importante critico e ativista contra a central nuclear, que a EDP pretendia construir em Ferrel, perto de Peniche. Um movimento de contestação foi crescendo e envolvendo o povo de Ferrel, que se concentrou pacificamente no local, arrastando esta luta aos meios académicos e científicos, a nível nacional e internacional.
Podem ler o seu manifesto contra a central neste documento (pdf)

Eu era então estudante no IST, onde lecionava o Professor, e deixei-me envolver nessa causa, indo a inúmeras conferencias suas, comprando uma série de livros sobre o assunto. A história e os factos dissuasores da Energia Nuclear, eram para mim e para a maioria das pessoas, suficiente para um não redundante, pois as consequências avassaladoras dum acidente nuclear, deitaria por terra qualquer defesa do Nuclear. Também fui a Ferrel, tinha 18 anos.
Descrição dos acontecimentos pela Junta de Freguesia de Ferrel :
“Quando os pescadores e camponeses de uma pequena aldeia marítima do litoral de Peniche tocam os sinos a rebate para dizer “não!” à central nuclear que lhes querem impingir, graças a eles, Portugal pode ser o primeiro país do mundo a pronunciar-se contra o holocausto nuclear no seu território”.
Em junho de 1977, foi lançado um novo manifesto sobre a política energética e a opção nuclear. Cento e dez cientistas e técnicos ligados ao problema nuclear debateram a nível nacional estas questões. Em janeiro de 1978, nas Caldas da Rainha e em Ferrel, realizou-se o festival “Pela vida contra o nuclear”, que reuniu cerca de três mil pessoas. Decorreram debates, espetáculos e outras atividades, nos quais participaram nomes como Zeca Afonso, Vitorino, Pedro Barroso, Fausto e Sérgio Godinho.
Foram recebidas mensagens de representantes de grupos anti nucleares espanhóis e dos mais variados pontos do mundo. Lembrar-se-ão aqueles que estiveram presentes na mobilização: ninguém arredou pé e realizou-se uma caminhada alegre em direção ao local onde se previa a construção da central. No local, os manifestantes encontraram forças da GNR. Não se deram incidentes e simbolicamente foram plantados alguns quilos de batatas oferecidos pelos agricultores de Ferrel.
Em 1982 o projeto nuclear foi abandonado.
Hoje temos os mais recentes exemplos dos Acidentes Nucleares de Chernobyl ocorrido em Abril de 1986 e Fukushima, em Março de 2011, que deixaram um rasto de mortes, destruição, uma imensa zona envolvente contaminada, incluindo as águas do mar. Outros países limítrofes e mais longínquos também foram atingidos. São zonas cercadas e proibidas, terra de ninguém, por dezenas e dezenas de anos, não se sabe. Os efeitos das radiações hão de subsistir, na flora, fauna e na saúde das pessoas e seus descendentes.
fukushima explosions from air, taken by global Hawk drone. Chernobyl + Prypiat Pripyat, Chernobyl Exclusion Zone
Em Portugal, existe uma ameaça latente, a Central Nuclear de Almaraz, em Espanha, junto ao rio Tejo, que fica a cerca de 100 km da fronteira com Portugal, pois já ultrapassou o prazo da sua vida útil, mas a sua licença de exploração foi renovada, com o risco de um acidente grave, para Espanha e para Portugal.
O professor Carlos Borrego, do Departamento de Ambiente e Ordenamento, da Universidade de Aveiro, esclarece a questão: