A Alquimia do Sonho

Canção de Manuel Freire sobre o poema “Pedra Filosofal”, publicado no livro Movimento Perpétuo, em 1956, do pedagogo, investigador de história da ciência, professor de físico-químicas e poeta, António Gedeão (Rómulo Vasco da Gama de Carvalho 1906 – 1997)

Pedra Filosofal

Eles não sabem que o sonho 
é uma constante da vida 
tão concreta e definida 
como outra coisa qualquer, 

como esta pedra cinzenta 
em que me sento e descanso, 
como este ribeiro manso 
em serenos sobressaltos, 
como estes pinheiros altos 
que em verde e oiro se agitam, 
como estas aves que gritam 
em bebedeiras de azul. 

Eles não sabem que o sonho 
é vinho, é espuma, é fermento, 
bichinho álacre e sedento, 
de focinho pontiagudo, 
que fossa através de tudo 
num perpétuo movimento. 

Eles não sabem que o sonho 
é tela, é cor, é pincel, 
base, fuste, capitel, 
arco em ogiva, vitral, 
pináculo de catedral, 
contraponto, sinfonia, 
máscara grega, magia, 
que é retorta de alquimista, 
mapa do mundo distante, 
rosa-dos-ventos, Infante, 
caravela quinhentista, 
que é Cabo da Boa Esperança, 
ouro, canela, marfim, 
florete de espadachim, 
bastidor, passo de dança, 
Colombina e Arlequim, 
passarola voadora, 
pára-raios, locomotiva, 
barco de proa festiva, 
alto-forno, geradora, 
cisão do átomo, radar, 
ultra-som, televisão, 
desembarque em foguetão 
na superfície lunar. 

Eles não sabem, nem sonham, 
que o sonho comanda a vida. 
Que sempre que um homem sonha 
o mundo pula e avança 
como bola colorida 
entre as mãos de uma criança. 
They do not know that dreaming
is a constant in life
as concrete and outlined
as any other thing,

like this grayish stone
where I sit to rest,
like this calm creek
in its easy startles,
like these high pine trees
that in green and gold sway,
like these birds that crow
in drunkenness of blue.

They do not know that dreaming
is wine, is foam, is yeast,
a joyous thirsty little animal
whose sharp snout
pokes through everywhere
in endless restlessness.

They do not know that dreaming
is canvas, is colour, is paintbrush,
base, pole, shaft,
ogive arc, stained glass window,
a cathedral vault,
counterpoint, symphony,
Greek mask, magic,
that it is the alchemist's retort,
distant lands chart,
wind rose, infant,
sixteenth century vessel,
that it is Cape of Good Hope,
gold, cinnamon, ivory,
a swordsman’s foil,
it is backstage, is dance step,
Colombina and Arlequim,
huge flappy flying bird,
lightning-rod, locomotive,
a glorious prow boat,
furnace, energy generator,
split of the atom, radar,
ultrasound, television,
a rocket landing
on the surface of the moon.

They do not know, nor dream of,
that dreaming commands life.
That whenever a man dreams
the world leaps forth
like a colourful ball
into a child’s little hands.

Tradução do poema para a língua inglesa do blog English is Cool

2 pensamentos sobre “A Alquimia do Sonho

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