Poema de Al Berto, dito pelo próprio. CD “Os poetas” .
“Há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida” (Al Berto), disco “entre nós e as palavras” (1997)
Música de Francisco Ribeiro
“Há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida” há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida pensava eu…como seriam felizes as mulheres à beira-mar debruçadas para a luz caiada remendando o pano das velas espiando o mar e a longitude do amor embarcado por vezes uma gaivota pousava nas águas outras era o sol que cegava e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite os dias lentíssimos… sem ninguém e nunca me disseram o nome daquele oceano esperei sentada à porta… dantes escrevia cartas punha-me a olhar a risca do mar ao fundo da rua assim envelheci… acreditando que algum homem ao passar se espantasse com a minha solidão (anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no coração, mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.) um dia houve que nunca mais avistei cidades crepusculares e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta inclino-me de novo para o pano deste século recomeço a bordar ou a dormir tanto faz sempre tive dúvidas de que alguma vez me visite a felicidade Al Berto