1 – Breve enquadramento socio-económico da produção agrícola
A iniciativa privada, com regulamentação eficaz, respeitando a comunidade, os ecossistemas e os seus colaboradores, que são os seus assalariados, praticamente não existe neste quintal e na maior parte dos outros quintais e herdades, diga-se países.
O capitalismo e os neo-liberais, especialmente com a privatização dos nossos principais recursos, e dos sistemas de saúde, parafraseando um titulo do jornal Publico “Capitalismo, século XXI: salve-se quem puder, se puder“, a propósito da peça Exercícios para Joelhos Fortes, de Andreas Flourakis, sobre as relações laborais, escravizou-nos o tempo e vida. Consumiu-nos.
Vem isto a propósito da industria alimentar, um dos símbolos máximos, do capitalismo selvagem, investindo grande parte na publicidade, e não na qualidade do produto, e não na qualidade dos meios de trabalho ou produção, e não nos efeitos prejudiciais da sua produção, quer em termos da saúde dos seus trabalhadores, efeitos ecológicos, ou na comunidade envolvente.
Começando, a montante, nas culturas intensivas de produtos hortícolas e frutícolas, intensivas para poder satisfazer a expansão e o aumento do consumo (para exportação?), conduzindo inevitavelmente, à aplicação também intensiva de pesticidas, com todas as consequências sabidas, e ao trabalho emigrante em escravatura ou semi-escravatura, como podemos verificar na imprensa, ou in loco.
2 – A fruta comum, os novos híbridos, as normas de comercialização e a imposição do gosto e da preguiça
Mas o que pretendo realmente queixar-me, desde há uns largos anos, talvez desde a entrada na CEE, foi e é, o findar e adulterar de espécies nativas, principalmente, frutícolas, e em particular as que eu conheço muito bem, durante os 17 anos que vivi no Algarve, e onde nasci.
O aparecimento dos novos híbridos citrinos, (dado que a laranja e outros citrinos já são híbridos, as primeiras laranjas eram amargas), com a justificação que são maiores, mais fáceis de comer, sem sementes, mais bonitos, e talvez mais eficazes do ponto de vista produtivo e comercial, está a matar a tangera, tangerina e a clementina, comuns.
Não há perfume e sabor como o da tangerina, doçura como a clementina, esta, naturalmente, sem sementes, sabor especial, como o da tângera, doçura como a estaladiça laranja de umbigo .
Também em relação à romã algarvia, que é leve, com uma pele interior, que se despega com facilidade, assim como os gomos, e é muito doce, ao contrário da romãs que vemos nos supermercados, e também já nos mercados, lindas por fora, mas com uma espessa pele interior, esponjosa, pouca polpa e ácida.



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“A gosto do consumidor”, como apregoam os produtores e distribuidores de fruta do Algarve, que “preferem o bonito, o fácil de descascar e comer”, e “sem sementes”, à fruta comum, mais saborosa e mais barata, bem adaptada ao clima e terreno, importando e mesclando, para criar espécimes, como por exemplo, a Clemenville (híbrida de clementina) e a Encore, que acho de gosto estranho e incomparável.
3 – Curiosidades
Crê-se que os portugueses terão introduzido o fruto na Europa a partir da China, no século XVI, e que depois o levaram para o continente americano, onde hoje se encontram as maiores plantações de laranjas do mundo.
Por este motivo, hoje em dia as laranjas são denominadas portuguesas em alguns países. Tome nota: em romeno laranja diz-se “portocálâ”, os búlgaros e os turcos chamam-lhes “portukal” e os gregos “portukáli”. Seguindo no mapa, em língua persa, falada no Irão, no Afeganistão e em países como a Arménia, a Geórgia ou o Iraque, mas também em árabe, a palavra “Portugal” significa “laranja”!
ensina.rtp.pt
Do google tradutor, a palavra laranja, البرتقالي, soa a “alburtuqaliu”
Árvore genealógica das principais frutas cítricas (clicar para aumentar)
4 – Concluindo
Penso que não faz sentido, investir-se em grandes plantações, mecanizadas, de enxertos de citrinos, dado que não conseguimos competir com grandes mercados, de laranja, sobretudo, em que os Estados Unidos, o Brasil e Espanha, são os maiores produtores. A produção pequena e média, para consumo interno, preservando os nativos, não será rentável? Precisariam de um apoio do Estado, para não marginalizar e levar provavelmente à extinção, as espécies características de citrinos, talvez únicos, de sabor excelente?
Até que ponto, as novas culturas de abacate, manga, e frutos vermelhos no Algarve, para exportação, associado à exploração turística, não estarão a matar, esses citrinos, assim como a amêndoa, o figo, o medronho ou a româ?
Felizmente, ainda se encontram, nalguns Mercados, a tal fruta autóctone e não bonita, a “fruta feia”, que apesar de algumas manchas, sementes e pequenez, são muito mais saborosas que as outras.
A preguiça, o tamanho e a beleza, sobrepõe-se ao sabor?
5 – Cooperativa fruta feia
Aproveito para divulgar uma das iniciativas de aproveitar, salvar a “fruta feia”, que é descartada, na comercialização, criando um cabaz de frutas e legumes, a preço acessível, beneficiando o produtor, o consumidor e evitando o desperdício.

Consulte aqui, na respetiva página, frutafeia.pt, se estão no seu concelho, ou cidade.
Fontes :
Breves notas sobre a citricultura portuguesa (agronegocios.eu)