Maia e o Direito dos animais

A Maia é a minha cadelinha, já tinha feito um post sobre ela, e um vídeo, mas ela aqui vai ser o mote para refletir sobre o direito dos outros animais, não humanos, sobretudo sobre o cão.

“Quem não tem filhos arranja cadilhos”, “quem tem medo arranja um cão”, “o cão dá estatuto”, etc são alguns dos clichés automáticos que as pessoas dizem. A história do cão de companhia, é bastante recente, e vem acompanhada de contradições e confusões de ordem moral, ao longo das ultimas décadas. Sentimentos, como a pena, a solidão da pessoa, “são uma companhia”, “só falta falar”, “compreendem tudo”, “o direito de proteção”, a segurança que transmitem, etc, com a equiparação do cão ao homem, levando a que, sejam domesticados para perderem esse lado selvagem, que o homem “já perdeu”, instintivo, defensor do seu território, o mau cheiro de animal, o ladrar, defecar, vomitar, que não se admite no cão-humano, e incomoda a vizinhança, coabitando com a utilização do animal como utilitário e comestível, sua propriedade, donos da sua vida e da sua morte.

O direito dos animais, como seres com sentimentos, emoções e que sofrem, ainda é mais recente, no mundo ocidental, pois em muitos países o cão, o porco, o macaco, por exemplo, é carne, que se cria para comer.

A influência, sobretudo religiosa, e da moral filosófica antiga, que considera o homem, um ser que dispõe da natureza, e é superior a todos os outros seres na terra, mais inteligente e civilizado, entrava em contradição com estes novos sentimentos e comportamentos.

Os cães sujam, estragam, em casa e na rua. Como era e é tradição maltratar os cães e sobretudo os gatos, sendo envenenados, com bastante frequência, as pessoas, passaram a tê-los dentro de casa, e saírem sempre de tela.

O cão foi sempre um ajudante, quer nos rebanhos, quer na segurança, nossa e do gado, na caça, na guerra, etc.

Quando passou a animal de companhia, tentaram adapta-lo a esse ambiente. Logo os criadores, se dedicaram ás raças mais pequenas, mais silenciosas e que cheirassem o menos possível. Criaram cães que não ladram, não alergénicos, sem pelo (o gato), super docinhos e pacientes.

O cinema e os programas de educação de cães, começaram a proliferar, nos últimos anos, o que aumentou a compra e adopção de cães, nascendo associações de apoio e captura de animais de rua ou abandonados, como resposta à carrinha de captura e morte nos canis oficiais.

As inúmeras pessoas que recolhiam cães de rua e maltratados, tinham a tendência de acumular dezenas de animais, sem condições algumas de os manter, sendo um problema de higiene grave, para uns e outros.

Felizmente, está a chegar-se à conclusão que mais vale esterilizá-los, do que apoiar esses abrigos improvisados e superlotados.

Para muitas famílias, o cão ou o gato, é tratado como um membro da família, como um filho ou irmão, sofrendo pela sua morte, tanto ou mais que uma pessoa próxima.

Apareceram os vegetarianos e os veganos, como a resposta natural, a esta contradição, se amo o meu animal como um amigo e filho, como posso comer outros animais, que estão sujeitos às mais barbaras condições de armazenamento e morte.

O surgimento de movimentos pelo direito dos animais, contra a morte nos canis, pela criminalização de quem os maltrata e mata, pelo direito na lei, pela mudança de comportamentos e também pelo direito dos animais destinados à alimentação, desde o seu acondicionamento, forma de os matar e transporte.

Por outro lado, agora criámos uns seres, dependentes do homem, desprotegidos, não autónomos, incapazes ou inábeis de seguir os seus instintos, de caça, de matilha e de defesa do território.

Quando abandonados, não resistem à vida no exterior, sendo maltratados, atropelados, adoecendo frequentemente, devido às porcarias que comem, o lixo, não sabendo lidar com esta nova condição, pensam ser humanos, mas são tratados como um perigo ou um alvo a abater.

Outro problema grave, é a falta do direito à proteção da sua saúde, isto, é claro em países onde haja, também para os homens. O elevado preço dos veterinários, dos medicamentos e já agora, de toda a parafernália, de produtos que a industria elaborou, desde as rações, brinquedos, roupa, educadores, tosquias, banhos, etc, transformaram a posse de um animal de companhia, numa absurda despesa, somente suportada pela camada mais rica da sociedade.

Quando se esboça a hipótese de um apoio e assistência por parte do estado, logo se levantam vozes, de um completo histerismo, pois, se nem as pessoas tem um apoio digno , quanto mais os animais inferiores, as bestas.

A critica social, o escárnio, em relação a um tratamento humano dos animais, e até das plantas, e até dos peixes, e até dos insectos, inibe, cala e dificulta qualquer alteração nesse sentido.

Houve homens, esclarecidos e superiores, mais avançados que o seu tempo, que defenderam os animais e a natureza, contra o predador e cruel homem, que então, era a moral normal.

Retirado da Wikipedia, sobre o direito dos animais:

Jean-Jacques Rousseau argumentou, no prefácio do seu Discursos sobre a Desigualdade (1754), que os seres humanos são animais, embora ninguém “exima-se de intelecto e liberdade”. Entretanto, como animais são seres sencientes “eles deveriam também participar do direito natural e que o homem é responsável no cumprimento de alguns deveres deles, especificamente “um tem o direito de não ser desnecessariamente maltratado pelo outro.”

Também Voltaire respondeu a Descartes no seu Dicionário Filosófico:

Que ingenuidade, que pobreza de espírito, dizer que os animais são máquinas privadas de conhecimento e sentimento, que procedem sempre da mesma maneira, que nada aprendem, nada aperfeiçoam! Será porque falo que julgas que tenho sentimento, memória, ideias? Pois bem, calo-me. Vês-me entrar em casa aflito, procurar um papel com inquietude, abrir a escrivaninha, onde me lembra tê-lo guardado, encontrá-lo, lê-lo com alegria. Percebes que experimentei os sentimentos de aflição e prazer, que tenho memória e conhecimento.Vê com os mesmos olhos esse cão que perdeu o amo e procura-o por toda parte com ganidos dolorosos, entra em casa agitado, inquieto, desce e sobe e vai de aposento em aposento e enfim encontra no gabinete o ente amado, a quem manifesta sua alegria pela ternura dos ladridos, com saltos e carícias. Bárbaros agarram esse cão, que tão prodigiosamente vence o homem em amizade, pregam-no em cima de uma mesa e dissecam-no vivo para mostrarem-te suas veias mesentéricas. Descobres nele todos os mesmos órgãos de sentimentos de que te gabas. Responde-me maquinista, teria a natureza entrosado nesse animal todos os órgãos do sentimento sem objectivo algum? Terá nervos para ser insensível? Não inquines à natureza tão impertinente contradição.

“Se cada Ser Humano tivesse que testemunhar a morte do animal que ele come”, argumentava ele, “a dieta vegetariana seria bem mais popular”. A divisão do trabalho, no entanto, permite que o homem moderno coma carne sem passar pela experiência que Oswald chama de alerta para as sensibilidades naturais do Ser Humano, enquanto a brutalização do homem moderno faz dele um acomodado com essa falta de sensibilidade”, escritor escocês John Oswald, que morreu em 1793.

“talvez chegue o dia em que o restante da criação animal venha a adquirir os direitos dos quais jamais poderiam ter sido privados, a não ser pela mão da tirania”, do filósofo britânico Jeremy Bentham, século XVIII.

“Amaldiçoada toda moralidade que não veja uma unidade essencial em todos os olhos que enxergam o sol.”, Arthur Schopenhauer, século XIX.

O livro Animals’ Rights: Considered in Relation to Social Progress, escrito pelo reformista britânico Henry Salt que formou a Liga Humanitária (Humanitarian League), em 1893, com o objetivo de banir a caça como desporto.


O texto da Wikipedia, continua, depois com o Movimento Moderno, a partir dos anos 70, encabeçado por filósofos de Oxford, que questionaram o status moral da inferioridade em relação aos animais não humanos.

Todos os argumentos contra os direitos dos não humanos, esbarra, na evidência de seres humanos, que se mostram, claramente inferiores, na sua crueldade e baixa moral (ou inexistente), bastando lembrar o Holocausto, um “program” de exterminação de vários grupos de humanos, considerados inferiores.

“O cão é o nosso melhor amigo”, constatam os amigos e “donos” dos animais : é-nos completamente fiel, morre por nós, compreende-nos melhor do que nós a eles, tem um vasto vocabulário que entende e que permite o diálogo, é uma fonte de brincadeira inesgotável até já ser bem velhote, é realmente uma boa companhia.

Os homens também sujam, estragam, defecam e vomitam, cheiram mal, matam e matam-se, traem, enganam, roubam, estupram, violam, drogam-se e alcoolizam-se, tornando a vida dos seus próximos e dos outros num inferno.

Este século, veio pôr em causa, veementemente, certas práticas culturais, banais, como as touradas, a caça de entretenimento, a forma como tratam os animais comestíveis, a utilização na experimentações cientificas e da industria cosmética, e outras. A constatação do beneficio do contacto com pessoas, sejam crianças com problemas, doentes, cegos, em lares e até mesmo num ambiente de empresa, aliviando o stress, veio trazer um grande impulso à luta pelos direitos dos animais não humanos.

Quando se caminha e se pisa um inseto, sem sequer olhar o caminho, ou se pisa de propósito, comportamento que começa logo na infância, sem qualquer raspanete e educação, se atira um gato de um viaduto, se chumbam as aves ou outros animais por pura distração, se vão aos ninhos, roubar os ovos, se se ocupa o seu território, e espamtam.se com a sua violência contra as pessoas, como o caso dos elefantes e grandes felinos, ainda há muito por fazer neste reino de presunçosos e déspotas humanos.

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