A minha estante de livros – 3

E venham mais 5.

"A FALA DO ÍNDIO" de Teri C. McLuhan
11 – A FALA DO ÍNDIO
Autora: Teri D. McLuhan
Fotografias de Edward Sheriff Curtis (1868-1952)
Edição “FENDA”

Da contracapa:

As vastas e abertas planícies, as belas colinas e as águas que em meandros complicados serpenteiam, não eram, aos nossos olhos, “selvagens”. Só o homem branco via a natureza “selvagem”, e só para ele estava a terra “infestada de animais selvagens” e de gentes “selvagens”.

Para nós era ela mansa. A terra era caritativa, e sentíamo-nos rodeados pelas bênçãos do Grande Mistério. Só se tornou para nós hostil com a chegada do homem peludo vindo do Leste, que nos oprime, a nós e às nossas famílias que tanto amamos, com injustiças insanas e brutais. Foi quando os animais da floresta se puseram em fuga, à medida que ele se aproximava, que para nós começou o “Oeste selvagem”.

Chefe Luther Standing Bear, do clã Oglala dos Sioux.

Sim, bem o sabemos – quando vós chegais, nós morremos.

Chiparopai, uma anciã Yuma.

A Fala do Índio, é uma selecção de textos de índios norte-americanos, escolhidos por constituírem iluminações da sua história e dos valores da sua cultura. estes textos fazem parte do património oral e escrito dos índios da América do Norte.

Propõe-se esta selecção fornecer esclarecimentos acerca da sua história e, ao mesmo tempo, expor a perenidade da sua civilização. O tom destes escritos, classificados cronologicamente, é umas vezes o da sabedoria, outras o do lirismo, da eloquência ou da emoção profunda. retrato da natureza e do destino índios, eles representam antes de mais a prova do renascimento duma civilização autêntica. Esta antologia tende pois a dar relevo às características dessa civilização, em que as considerações políticas e históricas se esbatem para mostrar a harmonia do humano e da natureza – uma harmonia na qual a terra surge como criação sagrada.

Trata-se, assim, de um domínio da experiência índia que poderá ser aprendido como uma herança essencial.


O Sal da Língua precedido de Trinta Poemas, de Eugénio de Andrade
12 – O SAL DA LÍNGUA precedido de TRINTA POEMAS
Autor: Eugénio de Andrade
2001, BIBLIOTEX, S.L.
As Palavras



São como um cristal,
as palavras,
Algumas um punhal,
um incêndio,
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memórias.
Inseguras navegam;
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

HERBERTO HELDER, OS PASSOS EM VOLTA
13 – OS PASSOS EM VOLTA (1963)
Autor: HERBERTO HELDER
1997, Assírio & Alvin, 7ª edição

Excerto da primeira página.

Se eu quisesse, enlouquecia. Sei uma quantidade de histórias terríveis. Vi muita coisa, contaram-me casos extraordinários, eu próprio… Enfim, às vezes já não consigo arrumar tudo isso. Porque, sabe?, acorda-se às quatro da manhã num quarto vazio, acende-se um cigarro… Está aver? A pequena luz do fósforo levanta de repente a massa das sombras, a camisa caída sobre a cadeira ganha um volume impossível, a nossa vida…compreende?… a nossa vida, a vida inteira, está ali como… como um acontecimento excessivo… Tem de se arrumar muito depressa. Há felizmente o estilo. Não calcula o que seja? Vejamos: o estilo é um modo subtil de transferir a confusão e violência da vida para o plano mental de uma unidade de significação. Faço-me entender? Não? Bem, não aguentamos a desordem estuporada da vida. E então pegamos nela, reduzimo-la a dois ou três tópicos que se equacionam. Depois, por meio de uma operação intelectual, dizemos que esses tópicos se encontram no tópico comum, supunhamos, do Amor ou da Morte. Percebe? Uma dessas abstracções que servem para tudo. O cigarro consome-se não é?, a calma volta. Mas pode imaginar o que seja isto todas as noites, durante semanas ou meses ou anos?

Uma vez fui a um médico.

– Doutor, estou louco – disse – devo estar louco.

– Tem loucos na família? – perguntou o médico, – Alcoólicos, sifilíticos?

– Sim senhor. O pior. Loucos, alcoólicos, sifilíticos, místicos, prostitutas, homossexuais. Estarei louco?

O médico tinha sentido de humor, e receitou-me barbitúricos. (…)


O Osso Côncavo e outros poemas, de LUÍS CARLOS PATRAQUIM
14 -O OSSO CÔNVAVO e Outros Poemas (2005)
Autor: LUÍS CARLOS PATRAQUIM

Design gráfico : José Serrão

Ilustração da capa : Ivone Ralha

2004, CAMINHO, outras margens

Poema prólogo


a intermitência dos sons que circundam o perímetro da palavra
corpo dual e só   emergência da variação
vem o tropel plasmado água larva    via láctea
os objectos postulam no tempo a forma da indecisão
adjacente é este sopro   teu arquipélago
melopeia breve   interminável dia
reinscrição da tarde e a redondilha do fôlego sobre o monte menor
quando se desgasta o giz explodem cones de pétalas    aves brancas mortais
talhado na barca   o poema baloiça o silêncio

ROMANCEIRO GITANO, POETA EM NOVA YORK, LLANTO POR IGNACIO SÁNCHEZ MEJÍAS DE FREDERICO GARCÍA LORCA
15 -ROMANCEIRO GITANO, POETA EM NOVA YORK, LLANTO POR IGNACIO SÁNCHEZ MEJÍAS
Autor: FREDERICO GARCÍA LORCA

Ilustrações e capa de Frederico García Lorca

7ª Edição, 1999

4
ROMANCE SONAMBULO
a Gloria Giner y a Fernanda de los Rios


Verde que te quero verde.
Verde vento. Verdes ramas.
El barco sobre la mar
y el caballo en la montaña.
Con la sombra en la cintura
ella sueña en su baranda,
verde carne, pelo verde,
con ojos de fria plata.
Verde que te quiero verde.
Bajo la luna gitana,
las cosas la están mirando
y ella no puede mirarlas.


Verde que te quiero verde.
Grandes estrellas de escarcha,
vienen con el pez de sombra
que abre el camino del alba.
La higuera frota su viento
con la lija de sus ramas,
y el monte, gato garduno,
eriza sus pitas agrias.
¿Pero quién vendrá? ¿Y por dónde...?
Ella sigue en su baranda,
verde carne, pelo verde,
soñando en la mar amarga.


Compadre, quiero cambiar
mi caballo por su casa,
mi montura por su espejo,
mi cuchillo por su manta.
Compadre, vengo sangrando,
desde los puertos de Cabra.
Si yo pudiera, mocito,
ese trato se cerraba.
Pero yo ya no soy yo.
Ni mi casa es ya mi casa.
Compadre, quiero morir
decentemente en mi cama.
De acero, si puede ser,
con las sábanas de holanda.
¿No veis la herida que tengo
desde el pecho a la garganta?
Trescientas rosas morenas
lleva tu pechera blanca.
Tu sangre rezuma y huele
alrededor de tu faja.
Pero yo ya no soy yo.
Ni mi casa es ya mi casa.
Dejadme subir al menos
hasta las altas barandas,
¿dejadme subir!, dejadme
hasta las verdes barandas.
Barandales de la luna
por donde retumba el agua.

(...)

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